As estradas ultrajadas
 



Cronicas

As estradas ultrajadas

Jacira Fagundes


As estradas ultrajadas

Jacira Fagundes


Para onde te leva o vento? Que caminho é este que você percorre? Você segue como andarilho? Ou ciente de cada percurso? Junta-te a nós. Em nome de Deus e da Família. Nós somos a Verdade.

Estas falas, eu as ouvi pela primeira vez, pronunciadas a um bando de gente que se acotovelava em meio à estrada, saudando uma bandeira que tremulava à frente.
Havia, a cada parada para descansar, a emissão estridente de palavras de ordem. Eram repetidas para os que se distanciavam, os que vinham bem atrás da comitiva. E faziam eco.
À frente marchavam os arautos com suas armas engatilhadas, simulando trombetas angelicais.

A estrada é sinuosa e alguns, menos afoitos, ousam abandonar o caminho. Mas são açoitados pelos chefes, e novamente comandados pela força.

Tanto tempo já se passou da eleição do novo mandatário e muitos ainda permanecem obstruindo as estradas e manipulando o processo democrático no país.
Por quanto tempo o caminho será percorrido, só é do conhecimento de quem? Deles, dos que pretendem conduzir até o planalto os pobres de espírito e ricos de preconceitos.

Mas nada é para sempre. Um novo dia despontará no horizonte. A luz do sol irá empurrar as nuvens e fazer o vento cessar. E outras palavras subverterão as forças armadas. Elas irão deter as balas e silenciar as vozes.
E então se abrirá a possibilidade de fuga por um desvio na estrada. Consciente do percurso em definitivo, a humanidade ultrajada se afastará do desvario dos ventos.
Só então, a lucidez irá fechar os ouvidos aos gritos de ódio. E voltará a paz.


 

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